HISTORIA DOS QUADRINHOS




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“As Histórias em Quadrinhos, como todas as formas de arte, fazem parte do
contexto histórico e social que as cercam. Elas não surgem isoladas e
isentas de influências. Na verdade, as ideologias e o momento político
moldam, de maneira decisiva, até mesmo o mais descompromissado dos
gibis.(...)”
JOATAN PREIS DUTRA

A HISTÓRIA DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

As primeiras manifestações das Histórias em Quadrinhos são no começo do século XX, na busca de novos meios de comunicação e expressão gráfica e visual. Com o avanço da imprensa, da tecnologia e dos novos meios de impressão possibilitaram o desenvolvimento desse meio de comunicação de massa.

Entre os precursores estão o suíço Rudolph Töpffer, o alemão Wilhelm Bush, o francês Georges ("Christophe") Colomb, e o brasileiro Angelo Agostini. Alguns consideram como a primeira história em quadrinhos a criação de Richard Fenton Outcalt, The Yellow Kid em 1896. Outcalt essencialmente sintetizou o que tinha sido feito antes dele e introduziu um novo elemento: o balão. Este é o local onde se põe as falas das personagens.

Nas primeiras décadas os quadrinhos eram essencialmente humorísticos, e essa é a explicação para o nome que elas carregam ainda hoje em inglês, comics (cômicos). Algumas destas histórias eram Little Nemo (de Winsor McCay), Mutt & Jeff (de Bud Fisher), Popeye (de E.C. Segar), e Krazy Kat (de Georges Herriman). Os temas das histórias eram basicamente travessuras de crianças e bichinhos, e dessa época vem às designações kid strips, animal strips, family strips, boy-dog strips, boyfamily- dog strips, entre outros.

O crack da Bolsa de Valores em 1929 foi um ponto importante na história da história em quadrinhos, e nos anos 30 eles cresceram, invadindo o gênero da aventura. Flash Gordon, de Alex Raymond, Dick Tracy, de Chester Gould e a adaptação de Hal Foster para o Tarzan de E. R. Borroughs são conhecidos como o início da A Era de Ouro (Golden Age). Nesta década, três gêneros essenciais eram produzidos: a ficção científica, o policial e as aventuras na selva.

Tarzan de Foster era uma adaptação sem balões e cheia de ação do livro de Borroughs, e o Dick Tracy de Gould era parcialmente inspirado nos gangsters de Chicago (onde Gould vivia), Flash Gordon era um produto total da imaginação de Alex Raymond, que também trazia o Agente Secreto X-9, Jim das Selvas e Nick Holmes. Na década de 30 tambem foi criado o primeiro herói uniformizado, Fantasma, escrito por Lee Falk e desenhado por Ray Moore. Falk também criou Mandrake, o mágico, que possuía os desenhos de Phil Davis.
No final da década de 30, surgiu o primeiro super-herói que possuía identidade secreta, Superman de Siegel and Shuster. Muitos o destacam como o personagem que marca o início da Era de Ouro.



O Superman foi criado em 1933, mas só chegou às bancas em 1938, depois que a dupla vendeu seus direitos para a DC Comics para ser publicado na revista Action Comics 1. Poucos meses depois, teria início a Segunda Guerra Mundial, deflagrada pelas ações expansionistas de uma Alemanha comandada por Adolf Hitler desde 1933. No caldeirão ideológico daqueles anos, os quadrinhos logo despertaram interesses políticos. E o Homem de Aço, como um dos principais representantes desta forma de arte tornou-se alvo de polêmicas.                          
Por causa da irmã de Friedrich Nietzche, os nazistas haviam se apropriado indevidamente de vários conceitos filosóficos deste autor alemão, inclusive o do übermensch que traduzido acaba, de certa maneira sendo similar ao título de Superman, sendo assim, preciso o fim do conflito mundial para que se denunciasse a deturpação do pensamento nietzchiano e se desfizesse o equívoco que pairava sobre o filósofo alemão. Quando superman surgiu em cena foi logo colhido pela confusão vigente. As pessoas de esquerda no mundo inteiro, desde o princípio, acusaram-no de ser símbolo do imperialismo norte-americano e, de quebra, da arrogância fascista. Já os políticos dura do Partido Republicano viram nele a personificação do tal superman nazista. Nas palavras dos assessores de Hitler, o Superman não passava de um judeu.

Em 1939 surgiu o herói aquático Namor, o Príncipe Submarino que despontou como o inimigo número um de toda a humanidade por ser um híbrido humano-atlante. Ele teve como oponente o herói cibernético Tocha Humana (um andróide flamejante dotado de avançada tecnologia que ao contato com o oxigênio, podia inflamar-se). Namor criado por Bill Everett, além de ser um híbrido era dotado de super-força, domínio sobre os seres do mundo aquático, possuía o dom de voar e capacidade de respirar dentro e fora d’água. O Tocha Humana, por sua vez, apareceu pela primeira vez na Marvel Comics 1, numa história escrita e desenhada por Carl Burgos. Apesar do nome, ele não era realmente humano, mas um robô confeccionado pelo Prof. Phineas Horton.

A interferência do governo que na época se deparava com a Segunda Guerra Mundial mostra como os Comics chamaram atenção das autoridades que perceberam o fascínio e a preocupação de seu poder como comunicação de massa. Ambos os heróis, tanto Namor quanto o Tocha Humana, fizeram parte do crossover significativo dos quadrinhos, era uma batalha entre fogo e água que despertaram grande interesse no público. No entanto, quis o desenrolar dos acontecimentos mundiais que Namor e Tocha chegassem a um acordo. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e a entrada dos Estados Unidos no conflito, o presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) “convocou” todos os heróis... e super-heróis para o esforço bélico do país. Com isso, os dois aventureiros passaram a visitar histórias um do outro de tempos em tempos, agora aliados contra alemães e japoneses. Esta união espelhou um movimento muito semelhante que ocorria, na cena mundial. Países historicamente antagônicos juntaram esforços – ainda que a contragosto – contra as potências do Eixo.

Em 1946, quase acompanhando o espírito da criação da Organização das Nações Unidas, os dois heróis tornam-se membros – juntamente com o Capitão América, Miss América e Whizzer – do efêmero All Winners Squad (ou como o grupo foi traduzido para o Brasil como Os Invasores). No período de 1940 até 1945 foram criados aproximadamente quatrocentos superheróis, mas nem todos sobreviveram. O campo evoluiu, expandindo suas fronteiras e tornando-se parte da cultura de massa. Dois merecem destaque: Batman, criado em 1939 por Bob Kane, uma figura sombria (inspirada na máquina voadora de Da Vinci e no Zorro) cuja fama ultrapassaria a do Superman nos anos 80, e o Capitão Marvel, de C.C.Beck, um jovem que ganhava poderes mágicos toda vez que falava a palavra Shazam!, um acrônimo de nomes de deuses antigos. Vários personagens se alistaram e foram para a II Guerra Mundial, e os quadrinhos se tornaram armas ideológicas para elevar o moral dos soldados e do povo. O maior ícone do  período da guerra é o Capitão América, de Jack Kirby e Joe Simon. Na capa de sua primeira revista ele combatia o próprio Adolf Hitler. Ao contrário de outros heróis, que acabaram “recrutados” para lutar na Segunda Guerra Mundial, o Sentinela da Liberdade foi criado especialmente com esse objetivo político. Desde o início, a única arma que o herói usou foi um escudo. A princípio, quase triangular, esta peça adquiriu, já na segunda edição, o formato circular famoso até os dias de hoje. Em momento algum, o Capitão América usou qualquer outra arma. É como se dissesse, para que todos ouvissem, que a “liberdade” é um valor que tem de ser defendido. Por outro lado, isso representa também a imagem que os Estados Unidos tinham de sua participação no conflito mundial, ou seja, aos próprios olhos, a América “apenas” defendia-se de ataques. Em todo o caso, seus companheiros de luta como o jovem Bucky, usava às vezes uma metralhadora.

Outro fato curioso e que fala mais do imaginário dos norte-americanos do que da realidade propriamente dita é a escolha do arqui-inimigo do Capitão. A origem de seu oponente era de que o Caveira Vermelha foi treinado pelo próprio Hitler a fim de pôr em prática os interesses do 3° Reich. No entanto, os nazistas sempre pregaram a superioridade ariana como um dos princípios-chave de sua ideologia. Nos anos 50 os quadrinhos foram alvo da maior caça as bruxas que já aconteceu por este meio de comunicação de massa. O psiquiatra Frederic Wertham escreveu um livro, A Sedução do Inocente (The Seduction of the Innocent), onde ele acusava os quadrinhos de corrupção e delinqüência juvenis. Nas 400 páginas de sua obra, o psiquiatra alemão esmiuçou suas idéias sobre o “verdadeiro intento subversivo” por trás dos quadrinhos. Dentre as hipóteses do tratado, havia a de que a Mulher Maravilha representava idéias sadomasoquistas e a da homossexualidade da dupla Batman & Robin. Entre outros argumentos de Whertham, também estão que os quadrinhos
incitavam a juventude à violência – bem como havia acontecido com o rock'n'roll – havendo então um Código de Ética, para limitar e regular o que podia (e o que não podia)
aparecer nas páginas limitando assim o alcance e a maneira de enfocar os assuntos, o que acabou por destruir todos os títulos de terror da EC Comics, exceto um, a revista humorística: Mad.

Foi quando surgiu numa tira de jornal aparentemente inocente sobre um grupo de crianças: Peanuts, de Charles M. Schulz. Charlie Brown, o personagem principal, é um garoto de 6 anos, perdedor nato, simboliza a insegurança, a ingenuidade, a falta de iniciativa; um eterno esperançoso. Seu cão, Snoopy, é um beagle filosófico em cima de sua casinha vermelha. Esta tira marcou o começo da era intelectual dos quadrinhos, com uma maior valorização do texto sobre as imagens. Ainda na década de 50 o medo passou a estar em toda parte do mundo. Os soviéticos fizeram a bomba atômica e os americanos atacavam contra tudo que soasse como ataque velado e subversivo dessa superpotência ao seu “american way of life”. Enquanto, na vida real, a população procurava comunistas debaixo da cama, nas páginas das histórias em quadrinhos, os heróis faziam sua parte.
Com o fim do conflito mundial e a polarização de forças entre EUA e URSS, o alvo das investidas não era mais os alemães e japoneses. Eram tempos em que se confundiam marxistas com comedores de criancinha. Numa demonstração de que comuna bom é comuna morto, Namor rechaçava insidiosos golpes de aquáticas foices e martelos, enquanto, de volta por um breve período no ano de 1954, o Capitão América enchia de socos os anticomunistas. Na década de 60 começou a Era de Prata dos quadrinhos que consolidaram a renovação no mundo dos super-heróis iniciada com o novo Flash da DC Comics em meados da década anterior. Logo após retornaram Superman, Mulher-maravilha, Batman, Aquaman, entre outros.

Diante do sucesso da editora rival, em 1961, Martin Goodman, o diretor da Atlas Comics (antiga Timely Comics), pediu a Jack Kirby e Stan Lee que bolassem super-heróis capazes de fazer frente à Liga da Justiça da América. Os dois aproveitaram, então, o conceito de uma criação prévia de Kirby, os Desafiadores do Desconhecido, e acrescentaram superpoderes às personagens. Surgiu assim o Quarteto Fantástico da Marvel Comics, empresa herdeira da Atlas. Stan Lee e Jack Kirby desconsideraram todos os clichês das histórias de superheróis existentes até então. Essa equipe de heróis não possuíam identidades secretas e eram uma família ao invés de uma equipe. Sue e Johnny Storm eram irmãos, Reed Richards era o noivo de Sue e Bem Grimm o amigo da família. Reed Richards era um cientista que preferia usar seu intelecto a seus poderes elásticos. O adolescente Johnny era o novo Tocha Humana. Sua irmã, Sue, podia se tornar invisível e projetar campos de força. E Ben Grimm, era uma rochoso Coisa, era dotado de enorme força, mas sua aparência aterradora ocultava a amargura de um ser desfigurado. Então, estavam os heróis simbolizando os quatro elementos da natureza: água, fogo, ar e terra respectivamente. Por trás de um grupo de amigos que, vitimados por um "acidente cósmico", ganham superpoderes, havia um forte paralelo com a mais significativa questão política daquele momento: a Guerra Fria e a paranóia anticomunista.

Em 12 de Abril de 1961, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin tornou-se o primeiro ser humano a alcançar o espaço. A notícia surpreendeu os Estados Unidos e acirrou os piores temores de seus habitantes. Era o auge da Guerra Fria. O duro golpe faz o presidente John Kennedy jurar que os norte-americanos chegariam à Lua antes do fim da década, derrotando a União Soviética naquela que viria a ser a Corrida Espacial. O Quarteto Fantástico foi à resposta dos quadrinhos ao apelo do dirigente da nação. Eles personificavam a nova era espacial, na qual seus heróis estavam dispostos a arriscar tudo, até mesmo a própria vida, para estar a um passo adiante da ameaça vermelha. Já na primeira edição de Fantastic Four, Sue Storm não poupa esforços para persuadir o relutante Ben Grimm a pilotar o foguete desenvolvido por seu amigo Reed Richards. “Ben, nós temos que tentar! A não ser que você queira que os comunistas cheguem na frente”.

Devido ao sucesso outros quadrinhistas como Steve Ditko, Don Heck, Gene Colan, John Buscema e John Romita, desenvolveria a infinidade de heróis da Marvel que estão em destaque até os dias de hoje (2006). Dentre os mais conhecidos estão Homem Aranha, Hulk, Thor, Homem de ferro, X-men, entre outros.

A década de 70 surgem os Quadrinhos underground sendo vendidos em head shops e de mão em mão. Crumb, os Freak Brothers de Gilbert Shelton , S. Clay Wilson, Victor Moscoso, Bill Griffin estão entre os mais conhecidos. Do outro lado do oceano, alguns desenhistas franceses -- Moebius, Phillipe Druillet, Jean Pierre Dionnet, e Bernard Farkas --, reunidos sob a efígie Les humanöides associées, criam em 1974 uma revista histórica, Métal Hurlant, que chega aos EUA em 1977 como Heavy Metal. Fantasia, ficção científica, viagens psicodélicas, rock'n'roll, corpos nus, novas diagramações e literatura são parte do confuso mix que fez o sucesso da revista. Da Itália vem grandes quadrinhos, como Ken Parker, de Berardi e Milazzo, Corto Maltese, de Hugo Pratt, e O Clic, de Milo Manara.

                       
Nos anos 80, os americanos criaram a “graphic novel” (ou romance gráfico) direcionado para o público adulto. O grande destaque e carro chefe dessa nova linha foi à história de um Batman sombrio, amargurado e violento, o cavaleiro das trevas de Frank Miller decretava a maioridade no mundo dos super-heróis. Violência, insanidade, sensualidade e dúvidas existênciais passaram a habitar os quadrinhos, vindo dentre estas obras Elektra Assassina de Frank Miller, Watchmen de David Gibbons e Alan Moore, Sandman de Neil Gaiman entre outros.


                
A partir da década de 90, os grandes desenhistas das historias em quadrinhos da atualidade saíram das duas maiores editoras de quadrinhos – a Marvel Comics e a DC Comics – e fundaram a Image Comics (os heróis eram Savage Dragon de Erik Larsen, WildC.A.T.S. e Gen 13 de Jim Lee, Spawn de Todd McFarlane, Cyberforce, Strykeforce, e The Darkness de Marc Silvestri). Este momento trouxe dois marcos para as histórias em quadrinhos americanas, a primeira era a colorização computadorizada e a influência dos Mangás (quadrinhos japoneses) na caracterização dos personagens. Os desenhistas americanos começaram a sofrer influência dos Mangás em seu traço.



Porém, após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 as duas torres gêmeas dos EUA afetou o mercado de quadrinhos americano que decidiram fazer um resgate ao estilo da arte dos pioneiros dos quadrinhos da Era de Prata e da década de 80. Dentre os artistas estavam Jack Kirby, John Romita, Steve Dikto, Sal Buscema, John Byrne e George Perez. Não só a arte dos quadrinhos, mas também os roteiristas e editores decidiram fazer esse resgate também das origens dos personagens. É fato que nos EUA bem como em outros países devido ao avanço tecnológico do cinema serviu para realizar adaptações desses super-heróis, como exemplo, pode-se citar Constatine das histórias de quadrinhos de Hellblazer, Hellboy de Mike Mignola, e Homemaranha, Hulk, Superman, Batman, Demolidor, Elektra, Liga Extraordinária, Do Inferno, V de Vingança, Estrada para Perdição, Quarteto Fantástico, Spawn, X-men que se firmam, expandem e propagam ainda mais esse meio de comunicação de massa. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, Theodor W. A indústria Cultural. In: COHN, Gabriel (Org.). Comunicação e
Industria Cultural. São Paulo: Nacional, 1978.
MCCLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos. Tradução de Hélcio de Carvalho e
Maria do Nascimento Paro. São Paulo: Makron Books, 1995.
SALEM, Rodrigo. Resgate – A evolução dos quadrinhos sob a análise do historiador.
Diário de Pernambuco. Recife, Maio de 1995, Caderno Viver p-6
WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação, Lisboa: Presença, 1995.

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