quinta-feira, 29 de setembro de 2011

E tudo se repete

Como disse no ultimo post, o Felipe não consegue se recuperar de forma nenhuma. Aí voces podem dizer: "foi o Hamilton que tirou o Felipe da corrida", mas venhamos e convenhamos. O Hamilton tambem teve que retornar ao box para trocar o bico (que demora mais que a troca dos pneus), teve que pagar uma penalidade pelo box, e mesmo assim ultrapassou aquela galera toda (o Felipe inclusive). E o que o Felipe fez? Nada!
Sei que é duro dizer, mas será que é só um problema de carro? É verdade que o Alonso também não conseguiu manter a vantagem que tinha e acabou em terceiro, mas o Felipe como sempre ficou bem atras.
Tomara que eu me engane e ele consiga se recuperar em 2013. É e sempre vai ser minha torcida.
Da-lhes Felipe!
E ao Bruno Sena tambem, que o cara promete.

tá cada dia mais dificil

Estava eu aqui avaliando a situação do Galo e vou dizer: desesperei!
A situação do Galo é muito, mas muito pior que parece. O Galo tem 25 pontos, o proximo tem 29 (o Cruzeiro) depois vem o Bahia e o Ceara com 30, o que significa que mesmo se o Galo ganhar - e se todo mundo perder(Atletico PR, Avai, America) o Galo fica na mesma, ou seja na ZONA.
E aí, vejam bem, o Avai joga com o Bahia, o que significa que se o Avai perder, o Galo continua a 5 pontos de Bahia, só se aproxima do Ceará, mas ainda faltando 2 pontos. Ou seja, o Galo não pode perder mais nada e ainda tem que acender velas em todos os cantos do Brasil pra secar os adversários - do Galo e de muita gente mais.
A coisa tá feia, muito feia! Se há algum consolo é que o Cruzeiro também está perigando, e a coisa lá tá pior que aqui, porque a roupa suja tá se espalhando. Não estão nem encontrando lavadeira pra tanta bandalheira.

sábado, 17 de setembro de 2011

O fundo do poço

Fiz silencio tanto tempo porque nao queria acreditar! Não queria acreditar que estava certo ao falar que o Galo caminhava ao encontro de sua "mediocridade" cotidiana.
Eu estava errado. A mediocridade do time do Galo é muito maior que jamais poderia imaginar. É surpreendente como o time do Atletico consegue contratar jogadores aparentemente de qualidade, e eles chegam aqui e fazem nada ou nada fazem.
Mas tem coisa pior. É incrivel como tecnicos vão e vem e o modo de jogar nao muda, os mesmos cabeças de bagre (como Eron, Richarlysson, Guilherme) continuam sendo usados sem nada produzirem por todo tecnico que dirige o Galo.
Alguem consegue entender o que esses caras estão fazendo no time? Parece que só o Cuca.

O resultado de hoje contra o Atletico-GO só prova uma coisa: pode piorar, e muito!!!!!

Felipe, the second!

Estive revisando a situação de Felipe Massa, e mais uma vez concluí que ele ou tem um carro infinitamente inferiror ao de Alonso ou ele realmente perdeu o jeito depois do acidente. Em 2011 em todas as corridas - exceto as duas primeiras, Australia e Malasia - ele terminou a corrida em posições atras da que largou, ou no máximo na mesma, ao contrario de Alonso, que em varias terminou em posição melhor que largou, e não dá pra acreditar que é apenas por causa do carro.
Em 2010 ele se saiu um pouco - mas só um pouquinho melhor. Em 9 corridas terminou mais bem colocado que largou, inclusive conquistando 4 podiuns, mas tambem terminou seis vezes com perda de posição e 1 não terminou.
É lógico que o carro e a equipe do Alonso são melhores que a do Felipe, e nem precisa ir longe para constatar. É só assistir as corridas e ver o que a Ferrari faz nos pit do Alonso e nos do Felipe. Mas às vezes me parece que o Felipe também precisa ajudar mais, fazer mais, dar aquele "algo mais" que outros pilotos tem pra dar.
Essa falta de competencia, que espero seja temporaria ou tecnologica, não diminui minha torcida por Felipe. Mas acho que está passando da hora dele procurar novos rumos. Acho que a Ferrari já deu tudo que tinha que dar a Felipe.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Pode piorar!(??)

Falei que o Galo caminha para seu quadrado: a mediocridade. Mas confesso, não esperava tanta mediocridade. Tomar 8 gols em 2 partidas é surpreendente pra qualquer time, mas parece que menos para o Galo, afinal, esse filme não é inédito. Já vimos mais de uma vez com o Galo.
O pior nem é dois resultados tão desastrosos, o pior é que o presidente do Atlético, mais uma vez, vai esperar para ver no que dá. Dizer, ou pretender que o tecnico seja demitido apenas por esses resultados é radicalismo, mas há algo mais preocupante: será que vamos esperar chegar na mesma situação do ano passado e substituir o tecnico só quando estivermos no limite, quando nao houver mais esperança de qualquer coisa?
Ainda há muito tempo para recuperar os pontos perdidos, mas tem-se que trabalhar muito para isso. Será que esse time não vai ter vergonha nunca?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

cada um no seu quadrado

É uma expressão popular, mas venhamos e convenhamos, é muito correta.
O Galo caminha celeremente para o seu quadrado: a MEDIOCRIDADE. Até parece que os jogadores do Galo tem um indescritível prazer em tomar goleada do Flamengo.
Difícil, se não impossível, explicar como um time, que se pretende concorrente a titulo, passar em apenas 15 minutos (15 - se alguem acha que estou exagerando assista ao vt do jogo) da situação de empate em 1 a 1 para uma estrondorosa goleada de 4 a 1. Apatia? Erro do treinador? Covardia - do treinador e dos jogadores? Ruindade mesmo? Vai-se entender!
Outra coisa que me pergunto insistentemente se não é desespero um treinador trocar no intervalo (com o jogo em 0 a 0) dois jogadores de uma só vez. Não entendo muito bem de futebol. Sou apenas um torcedor angustiado com a situação de total falta de criatividade do meu time, mas acho que se o time não está rendendo o que se espera, troca-se um jogador, espera-se para ver no que dá, e aí, só aí, substitui-se novo jogador para tentar melhorar a situação. E olha que não é a primeira vez que o Dorival faz isso. Pode até ser que tenha dado certo outras vezes, mas cuidado sempre é bom. Não quero dizer com isso que o Galo tem que jogar na retranca, muito pelo contrário. Quero ver o Galo sempre atacando, seja contra um time de varzea ou contra o campeão do mundo. Mas tenhamos pelo menos coerencia, galera.
Outra coisa que me desespera: para passar do 5º para o 10º lugar si precisamos de uma derrota, mas para passar do 10º para o 5º a coisa é bem mais difícil. Tem-se que remar muiiiiiiito!

o que fazer com o lixo domestico

O Brasil produz, atualmente, cerca de 228,4 mil toneladas de lixo por dia, segundo a última pesquisa de saneamento básico consolidada pelo IBGE, em 2000. O chamado lixo domiciliar equivale a pouco mais da metade desse volume, ou 125 mil toneladas diárias.
Do total de resíduos descartados em residências e indústrias, apenas 4.300 toneladas, ou aproximadamente 2% do total, são destinadas à coleta seletiva. Quase 50 mil toneladas de resíduos são despejados todos os dias em lixões a céu aberto, o que representa um risco à saúde e ao ambiente.
Mudar esse cenário envolve a redução de padrões sociais de consumo, a reutilização dos materiais e a reciclagem, conforme a "Regra dos Três Erres" preconizada pelos ambientalistas.
A idéia é diminuir o volume de lixo de difícil decomposição, como vidro e plástico, evitar a poluição do ar e da água, otimizar recursos e aumentar a vida útil dos aterros.

Tempo de decomposição dos resíduos

Tempo de decomposição dos resíduos

Coleta Seletiva

Veja abaixo quais os tipos de lixo que podem ser reciclados:
DESTINO
PAPEL
PLÁSTICO
VIDROS
METAIS
COLETA SELETIVA
papéis de escritório, papelão, caixas em geral, jornais, revistas, livros, listas telefônicas, cadernos, papel cartão, cartolinas, embalagens longa vida, listas telefônicas, livrossacos, CDs, disquetes, embalagens de produtos de limpeza, PET (como garrafas de refrigerante), canos e tubos, plásticos em geral (retire antes o excesso de sujeira)garrafas de bebida, frascos em geral, potes de produtos alimentícios, copos (retire antes o excesso de sujeira)latas de alumínio (refrigerante, cerveja, suco), latas de produtos alimentícios (óleo, leite em pó, conservas), tampas de garrafa, embalagens metálicas de congelados, folhas-de-flandres
LIXO COMUM
papel carbono, celofane, papel vegetal, termofax, papéis encerados ou palstificados, papel higiênico, lenços de papel, guardanapos, fotografias, fitas ou etiquetas adesivasplásticos termofixos (usados na indústria eletroeletrônica e na produção de alguns computadores, telefones e eletrodomésticos), embalagens plásticas metalizadas (como as de salgadinhos)espelhos, cristais, vidros de janelas, vidros de automóveis, lâmpadas, ampolas de medicamentos, cerâmicas, porcelanas, tubos de TV e de computadoresclipes, grampos, esponjas de aço, tachinhas, pregos e canos
Fonte: Instituto Akatu
Caso não haja coleta seletiva em seu bairro ou condomínio, procure as cooperativas de catadores e os Postos de Entrega Voluntária (PEVs).
O Grupo Pão de Açúcar também possui pontos de coleta nos supermercados em todo o país. A iniciativa está sendo ampliada para outras bandeiras do grupo, como a rede Extra.

wxtraído do site
http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ambiente/lixo/index.jhtm

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Um dia para esquecer

 

A lembrança é como uma imagem no fundo de um poço, que o movimento da água não deixa visualizar. Com o mesmo desespero que tenta buscar a imagem, alguma coisa parece dizer a Márcia que é melhor não recupera-la. Então, como num clarão de um raio, a lembrança se forma no seu cérebro.
Márcia acorda, o suor lhe escorrendo pela pele, a tempo de parar o grito de pavor que lhe sobe pela garganta. Com a mão sobre a boca, abre os olhos e se dá conta de onde está. Deitada sobre um sofá nem confortável nem desconfortável, sente o corpo todo dolorido. A penumbra cobre todo o ambiente. Não pode distinguir com exatidão, mas sabe que há três homens, todos armados, na casa. Uma luz difusa vem de um cômodo que lhe parece ser um banheiro. Sabe que está na sala. Num quarto em frente a ela estão sua filha de quinze anos e o filho de oito. A respiração lentamente volta ao normal, e ela consegue ir formando os pensamentos. Os filhos foram separados dela, e ela se lembra de uma frase, ouvida em um filme não sabe onde nem quando: “dividir para conquistar!” “Se eu tentar qualquer coisa, com meus filhos longe de mim tudo vai ser mais difícil”, pensa.
Lentamente move a cabeça sem se levantar e tenta descobrir os vigias. Um está de frente à porta de entrada, os outros ela não consegue localizar. O silencio é ao mesmo tempo um alívio e um peso angustiante. Dirige sua atenção na direção dos filhos, na tentativa de identificar se eles estão bem. Parece ouvir o suave ronco do filho mais novo, mas não consegue distinguir se a garota dorme ou está acordada. “Ela deve estar desesperada!” pensa Márcia.
Ela sabe que só há uma coisa a fazer: esperar. Tentar dormir, se acalmar e esperar. Mas como esperar, ter calma, com seus filhos indefesos nas mãos de três homens desconhecidos, armados, dispostos a não se sabe o quê? Márcia não sabe se torce para que o seqüestro dê certo ou para que a polícia o descubra e pegue todos os assaltantes. Se der certo, e o marido, gerente de banco, der aos seus raptores o dinheiro pedido, serão soltos como prometido? Já vira muitos filmes e ouvira suficientes casos de seqüestros, para saber que corriam risco de vida ainda assim. Se não desse certo, e os assaltantes fossem presos, ou se o assalto fosse frustrado, seus seqüestradores simplesmente os deixariam livres, sem nenhum lucro, ou os matariam em represália?
O desespero de Márcia aumenta, e para tentar se acalmar, ela tenta entender como tudo acontecera.

- Mamãe, o gás acabou!
- Aline, pegue na porta da geladeira o imã do motoqueiro e peça que eles trazem rapidinho. Pergunte quanto é pra eu fazer o cheque.
- Mãe, qual? Aqui tem dois imãs.
- Peça pro de vermelho, que ele é melhor e atende mais rápido.
- Tá.

- Mãe, o gás chegou. Você já fez o cheque?
- Peça a ele pra trocar enquanto eu faço!

A casa é de dois pavimentos. No superior, os dormitórios e banho social. No térreo, a sala de visitas, copa, biblioteca, cozinha, dependência de empregados e área de serviço. Márcia desce com o cheque preenchido nas mãos. Ao chegar à cozinha, depara-se com os filhos assentados, enquanto um homem lhes aponta uma arma. Assustadíssimos, as crianças tentam correr em direção à mãe, que fica paralisada vendo a cena. O homem interrompe o movimento das crianças, obrigando-as a se manterem onde estão. Com um movimento da arma ele manda que Márcia se assente no banquinho que se encontra vazio.
- Eu já troquei o gás. Você pode continuar a fazer o lanche da tarde. Logo seu marido vai chegar, e nós vamos ter uma pequena reunião.
- Isto é uma brincadeira? O que está acontecendo?
Márcia tenta chamar os filhos para si, mas o homem não deixa.
- Preste atenção. Eu vou explicar uma única vez, por isso ouçam bem.
Regras:
1ª - continuem a fazer o que estavam fazendo e como fazem todo dia.
2ª - não tentem correr, fugir, comunicar-se com ninguém.
3ª - quando seu marido chegar, não faça nenhum movimento diferente, nem tente alerta-lo da minha presença.
4ª - façam tudo como eu lhes ordenar, e ninguém vai se machucar, nem agora nem depois.
5ª - quinta, quinta. Bom, acho que não precisa de quinta regra, estas já dizem tudo.
- O que vocês querem com a gente? Nós não temos dinheiro que justifique um seqüestro?
- Vocês não, mas o banco em que seu marido trabalha tem!
- O banco? Não entendi?
- Não tente. Continue a fazer o que sempre faz a esta hora que quando seu marido chegar a gente se entende. Façam de conta que não estou aqui, mas ao mesmo tempo não se esqueçam que tenho uma arma, e não tenho medo de usa-la, por isso não me dêem motivo, entenderam?
Márcia faz que sim com a cabeça. O homem posiciona-se num canto da cozinha de onde pode vigiar todos os movimentos dos três. Márcia abraça os filhos.
- Vamos! Vamos continuar preparando nosso lanche. Cada um sabe o que tem que fazer.
Apreensivamente, as duas crianças voltam às suas tarefas. Arrumação da mesa, talheres, leite, café, biscoitos, pão, queijo, frutas. Enquanto trabalham, dirigem olhares furtivos para o homem e uns para os outros. Márcia faz gestos recomendando calma. Quando a mesa está quase posta, se ouve uma buzina e o ruído do portão eletrônico se abrindo. Márcia e os filhos se entreolham, e só então se dão conta que o homem não está no campo de visão de quem chega. Com um movimento da arma, indica aos três que se dirijam à cozinha. O marido de Márcia passa pela garagem, contorna a casa e entra pela porta da cozinha. Ao entrar, se depara com sua família abraçada e cara de assustados.
- O que ouve? Que cara é essa?
- Sente-se ali. Devagar e com calma.
A voz que vem de traz surpreende Renildo, que sente nas costas um objeto frio. Ele tenta se voltar e é impedido pelo assaltante.
- Não precisa se virar. Apenas sente-se ali. E vocês também.
Cada um se senta em um banquinho da cozinha. A campainha toca. O homem dirige-se ao menino.
- Abra o portão.
O menino olha assustado para os pais. Seu pai manda que ele obedeça. Em alguns instantes, mais dois homens estão dentro da casa, todos armados.
- É simples. Vocês já devem ter entendido. Isto é um seqüestro com finalidade de assalto a banco. Vocês estão sendo monitorados a tempo suficiente para termos conhecimento de todos seus hábitos, movimentos, relacionamentos, preferências, horários, itinerários, etc.
- Sabemos onde cada um de seus filhos estuda, das aulas particulares de inglês, judô e academia de sua esposa. Sabemos o nome, endereço, hábitos, e etc do namorado de sua filha. Monitoramos os amigos e familiares dos coleguinhas de seu filho. Sabemos quais filmes vocês gostam e quais detestam, vasculhamos e-mails de todos da casa, monitoramos telefones, recados. Sabemos a que hora vocês dormem, quem se levanta cedo e quem fica até mais tarde na cama. Estão entendendo?
O menino se agarra forte ao pai, que o abraça de volta, dando palmadinhas nas costas na tentativa de acalmá-lo.
- Sim. Estamos entendendo.
- Ótimo! Entendam o seguinte: não queremos nada com vocês, seu carro, seus bens, nada! Muito menos queremos fazer qualquer mal ou machucar qualquer de vocês, é só vocês fazerem o que mandarmos, e do jeito que mandarmos. Não pensem que somos bonzinhos, que não machucaremos vocês se tentarem algo. Se for preciso, todos nós sabemos usar estas armas, e sabemos lutar bem, até mesmo judô – olha para o menino. Por isso, tudo que têm que fazer é continuar suas vidas como todo dia, como se nada tivesse acontecido. Façam suas refeições, assistam suas novelas, seus jornais, durmam à hora normal, mas não se esqueçam: estamos aqui, cada instante até que tudo se resolva. Há mais alguns homens vigiando a casa, monitorando cada movimento, por isso não tentem nada, apenas façam o que mandamos que tudo sairá bem. Agora vamos para a mesa, que o lanche está preparado.
Todos se levantam e se dirigem à mesa, mas ninguém consegue comer nada. Os três homens se servem em silêncio e tranqüilamente do alimento que está à mesa, o que deixa os donos da casa ainda mais intranqüilos. Tentam seguir a rotina diária o mais normal possível, mas não é fácil. A sensação de opressão e medo não os abandona em nenhum instante. Às vezes o celular de um dos homens dá um leve toque, ele o lê e faz sinal para o homem que comanda a ação. Até aquele momento, apenas se ouvira sua voz, os outros nada haviam falado, apenas vigiavam os habitantes da casa, alertas a qualquer movimento diferente. A noite segue tranqüila dentro do possível e sem nenhum incidente.
Quando Márcia vai colocar os filhos para dormir, o homem determina que se traga os colchões para a biblioteca e que todos durmam juntos no chão. O casal tenta argumentar, mas o homem apenas olha com um olhar duro, que é entendido por Renildo. Ele então se dirige ao quarto dos filhos, acompanhado da vigilância severa de um dos seqüestradores. Todos se acomodam como é possível no chão e logo as crianças estão dormindo. Márcia finge dormir, abraçada ao marido.

A madrugada vai alta, quando são acordados pelo seqüestrador. Todos acordam entre assustados e apreensivos.
- O que foi agora? Quê que está acontecendo?
- Levantem-se. Nós vamos dar um passeio.
- Espere aí. A gente fez tudo que vocês mandaram até agora, que novidade é essa? Tenta argumentar Renildo.
Márcia assustada se abraça aos filhos. Os outros dois seqüestradores chegam perto deles e os agarram.
- Vocês vão com eles, diz, indicando Márcia e os filhos aos dois homens.
- Você, senhor Renildo, vai ficar aqui comigo até que a gente possa ir ao banco amanhã de manhã e resolver tudo. Se der tudo certo, se você não estragar a coisa toda, a gente libera sua família e nunca mais vocês ouvem falar de nós, mas se você aprontar com a gente... bom você não é bobo, é?
Renildo tenta argumentar com o homem, enquanto sua família se agarra desesperadamente a ele.
- Não é preciso nada disso. Eu vou fazer o que vocês querem. Não vou estragar nada. Vou obedecer vocês direitinho. Não façam isso, por favor!
- É melhor se soltarem dele. Façam como estou dizendo que vai dar tudo bem. Apenas isso.
- Não! Eles não vão a lugar algum. Eu já disse que vou fazer como vocês querem!
Enquanto fala, Renildo abraça-se a sua família. O seqüestrador, num movimento rápido e firme, engatilha a arma e coloca-a no pescoço de Renildo, apertando-a fortemente contra seu queixo. Fala baixo, mansamente, com o rosto quase colado ao dele.
- Eles irão com meus homens, e você vai ficar aqui comigo. Deu pra entender?
Renildo se solta lentamente de sua família. Dá um beijo e um abraço em cada um deles.
- Façam o que eles mandarem. Vai dar tudo certo, eu prometo. Vão. Eu amo vocês!
Márcia e os filhos são levados pelos dois homens que nada dizem e colocados dentro do carro da família. Grande, um station wagon, tem os vidros escurecidos por película plástica, o que dificulta a visão de quem está de fora, facilitando assim a ação dos seqüestradores. Um dos homens se posiciona ao volante, com Márcia e os filhos no banco de trás, vigiados pelo outro seqüestrador que viaja no banco da frente. O motorista abre o portão eletrônico de dentro do veículo, manobra, aciona o controle e aguarda que o portão se feche totalmente, como sempre fazem os moradores da casa. O homem ao seu lado não perde um só movimento das suas vítimas. Quando o veículo se distancia um pouco da casa e não mais se vê ninguém nas ruas, dá a eles três capuzes, e manda que os coloquem. A partir daí, Márcia só consegue sentir os movimentos do veiculo: paradas, arrancadas, manobras de conversão, às vezes para a direita, à vezes para a esquerda, às vezes dando a impressão de retorno, sempre calmas, sem excesso para não chamar a atenção.
Quando o veiculo pára, eles são retirados lá de dentro ainda com os capuzes na cabeça, o que leva Márcia a deduzir que estão em uma casa onde nada se pode ver de fora, ou eles os tirariam do carro descobertos. Outro seqüestrador já os esperava, e novamente eles têm três homens armados a vigiá-los, só que agora não têm a presença do marido, o que enfraquece sua moral, e ainda é uma preocupação a mais: seu marido só, sob o controle de homens armados.

Daquele momento até agora, poucas horas se passaram, mas para Márcia parece uma eternidade. Sem conseguir dormir, nos instantes em que o cansaço a vence e ela cochila, acorda sobressaltada como se uma tragédia houvesse acontecido.

O sol ilumina o ambiente. As janelas estão todas fechadas. Do sofá Márcia vislumbra os filhos que do quarto tentam um contato visual. Ela acena para que eles se acalmem, procura pelos seqüestradores que sumiram de seu campo visual. Acena para os filhos, perguntando por eles. A filha acena de volta, dizendo que um está no quarto com eles. O homem aparece no seu campo visual, olha para Márcia, que interrompe os gestos, olha para as crianças, que se encolhem de medo, e volta para o lugar onde estava.
O homem que estivera à janela quase toda a noite aparece na sala. Olha para Márcia, mas nada diz. Márcia se dirige a ele.
- A gente ta com fome. Não tem nada pra gente comer aí não?
O homem olha para ela e nada diz. Balança a arma na ponta dos dedos e senta-se no outro sofá, em frente à Márcia. Ela insiste.
- Eu e as crianças queremos comer alguma coisa.
O terceiro homem chega, vindo de um cômodo que parecia ser a cozinha, trazendo numa bandeja pão com margarina e café em copos de vidro. Serve-a primeiro. Márcia pede para levar o lanche para os filhos, mas ele manda que ela continue onde está. Leva o restante ao quarto onde estão as crianças. Elas se recusam a comer, mas Márcia de onde está pede a elas que se alimentem. Mesmo receosos, eles comem o pão com café.
Márcia volta-se para o homem, que parecia comandar o cativeiro.
- Não dá pra gente ficar todo mundo junto, não? Deixa meus filhos ficarem comigo. Fica mais fácil eu acalmá-los e esperar.
- Dona, fica quieta aí do jeito que a gente mandou que logo a gente se manda. E não procure conversa que aqui ninguém é de papo não.
Márcia decide que é melhor ficar onde está. Olha para os filhos e vê neles um pânico quase incontrolável. O medo de que eles não consigam suportar a pressão aumenta, mas ela só pode mesmo rezar e esperar. Acena mais uma vez para eles, pedindo calma e que esperem. A manhã se arrasta a passo de tartaruga.

“Agora eu sei o que é eternidade”, pensa Márcia. A manhã parece não passar. Márcia tem no pulso um pequeno relógio, que ela olhara milhares de vezes desde que acordara. Sente que seus seqüestradores não apresentam mais a tranqüilidade e confiança que aparentavam anteriormente. Teme que alguma coisa não tenha saído como planejado e que ela e seus filhos não estejam mais em segurança.
A imaginação de Márcia não tem limites. Seus pensamentos vão desde a perigosa situação em que se encontra, a preocupação com sua filha adolescente no quarto com um bandido armado, até a situação de seu marido, seu sofrimento em não saber deles, a maneira como ele fará para retirar o dinheiro do banco, os seqüestradores a vigia-los.
Quando se lembra da declaração do seqüestrador de que “conhecia todos seus hábitos, gostos, que vasculhara e-mails, correspondência, e etc”, Márcia se sente aviltada, agredida. Um ódio insuportável e sufocante nasce e cresce subitamente dentro dela, e sente ímpetos de agredir seus opressores.

Um celular toca em algum lugar. Há um sobressalto geral, seqüestradores e vítimas. Márcia não sabe o que esperar, se uma noticia boa ou uma violência contra ela e seus filhos. O desespero aumenta, proporcionalmente à esperança. O homem que falara com ela atende ao telefone e apenas ouve. Desliga o aparelho. Olha para seus comparsas e para suas vitimas.
- Vamos!
Márcia se levanta e vai em direção aos filhos. Os homens que os vigiavam apenas os acompanham e indicam a direção que devem tomar. Antes de sair da casa, mandam que recoloquem os capuzes. A escuridão do pano, em contrate com a luz existente a angustia e desespera ainda mais. Ela pede para que os deixem descobertos.
- Dona, a senhora ta me irritando, diz nervosamente o homem.
Empurra-a em direção ao carro, força-os a entrar. Todos se posicionam da mesma forma que antes. Novamente Márcia sente os movimentos do carro, agora um pouco mais veloz que na noite anterior. Pelo ruído do trânsito ela sente que eles tomam uma avenida, ou uma estrada movimentada. Rodam por poucos minutos. Enquanto estão em movimento, o homem que os vigia dá novas instruções.
- Quando a gente sair, vocês vão esperar cinco minutos antes de sair do carro. Não liguem para ninguém antes desse tempo. Seu marido já foi avisado que vocês estão bem. Vai ter alguém vigiando vocês. Se não obedecerem, alguém pode se machucar. Há gente vigiando vocês e seu marido. Façam do jeito que mandamos e ninguém se machuca e nunca mais vão ouvir falar na gente.
Quase ao mesmo tempo em que ele termina as instruções, o veículo freia e pára. O homem puxa num movimento os capuzes das suas cabeças – “mantenham os olhos fechados, não abram até a gente sair” - enfia-os dentro de uma sacola e saem rapidamente dali.
Márcia diz mais tarde ao marido que foram os cinco minutos mais longos e mais angustiantes de sua vida. “Eu podia ouvir gente passando por nós, pessoas olhando dentro do carro, ouvi alguém que até bateu no vidro, mas eu não tinha coragem de sair. Parece que minhas pernas e braços não atendiam meu comando. Congelei totalmente”.
Depois de algum tempo, Márcia e as crianças saem do carro. Estão numa rua que dá para uma avenida movimentada, mas ela não consegue identificar o local. Pensa em perguntar a algum transeunte onde estão, mas tem medo de todos que passam, teme que a pessoa a quem se dirigir seja alguém que os vigia, que ela e seus filhos sejam feridos. Perde alguns minutos até ter qualquer iniciativa. Olha em volta e descobre um telefone público. Manda que os filhos fiquem no carro, eles em desespero falam que não, que ficarão juntos com ela. Márcia então os leva consigo até o telefone. Liga a cobrar para o celular do marido, informa-o que estão bem, pergunta como ele está.
Renildo atende ao telefone com a voz calma, mas quando a esposa lhe avisa que estão bem, não consegue se conter e solta as lágrimas. Toda a pressão que sentira durante à tarde e a noite anterior o fazem desabar. Ele desliga o telefone, deixa o corpo cair no sofá de casa, onde esperava notícias de sua família, e chora convulsivamente.
Depois de falar com o marido e explicar que não sabia onde estava, Márcia desliga o telefone e cria coragem para procurar alguém que identifique o lugar em que se encontram. Não fala a ninguém de sua tragédia, apenas diz que se perdera e pede informações para voltar para casa. Liga de volta para o marido, informa onde se encontra e pede que ele venha buscá-los, pois não quer dirigir o carro deixado pelos seqüestradores. Renildo ainda demora uns trinta minutos a chegar. No caminho de volta Márcia vai relaxando o corpo. Enquanto sente a tensão diminuir ela quebra o silêncio que impera dentro do carro.
- Aí gente, tudo bem aí? Vocês se saíram muito bem. Estou orgulhosa!
As duas crianças tentam esboçar um sorriso para a mãe.
Quando chegam em casa, Renildo abraça e beija várias vezes sua esposa e filhos. Entram rapidamente dentro da casa, enquanto perguntas se entrecruzam, todos querendo falar e saber ao mesmo tempo pelo que passou o outro.
Márcia pensa que o caos tivera fim, mas se enganara. Em casa esperam seus parentes e amigos para animá-los, mas também esperam a polícia e a Segurança do banco. Seguem-se depoimentos, ora ela, ora o marido, ora os filhos, por um tempo que lhe parece interminável. Às vezes se sente reconfortada pelos entrevistadores, às vezes se sente constrangida, pressionada. Quando eles se vão, e a família pode finalmente descansar, ela pede aos amigos que os deixem sós. Márcia então abraça novamente seu marido e filhos e juntos oram agradecendo suas vidas.

Um ano se passara desde o seqüestro. No início, cada ruído, cada som ou presença era um sobressalto. Lenta e gradualmente, a vida de todos voltara ao normal, dentro do possível. Novas rotinas de segurança foram adotadas, e a confiança aos poucos voltava ao dia a dia de toda a família. Agora, quando aquela lembrança tentava se formar na lâmina de água no fundo do poço, Márcia fechava os olhos e prendia a respiração, até que ela se fosse.

A Literatura e o cinema

Nao sei viver sem eles. Sem a literatura nem o cinema. E nao falo apenas de livros recentes, autores de nome, best sellers, ou filme de grandes bilheterias, sucesso de publico e critica, premios, etc.
Muitas vezes nos deparamos com algum livro em prateleiras pouco visitadas de uma bilbioteca, ou filmes esquecidos em algum canto empoeirado das locadoras  e nos surpreendemos inesperadamente.
O filme que cito no meu perfil, "Feliz Natal", é de uma simplicidade comovente. Na primeira guerra, ingleses (representados por uma brigada escocesa), alemaes e franceses lutavem sem cessar. As poucas treguas que havia entre os bombardeios dava para um lado ouvir o outro, tão perto ficavam as trincheiras. Inesperadamente, os comandantes das tres forças combinam uma tregua para comemorar o natal, confraternizam-se, e um alemão, que era cantor de ópera, canta para todos na trincheira. Faz a gente pensar: será que é tão difícil assim a paz? Será que realmente não é possível a paz entre os povos?
A resposta, eu digo a voces sem medo de errar, esta na música de John Lenon: "Imagine"

Imagine

Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje


Imagine não existir países
Não é difícil de fazê-lo
Nada pelo que lutar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz


Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu tenho a esperança de que um dia
você se juntará a nós
E o mundo será como um só


Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade humana
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo


Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo será como um só
 
Imagine, que todos se dão as mãos, que cor, religião, opção política ou sexual, nada separa os homens. Braços se abraçam, rostos se tocam, vozes se cruzam, num infinito abraço de paz entre todos os povos.
Utopia? Pode ser. Mas só se cada um sonhar separado. Vamos sonhar juntos e podemos mudar o mundo.

Que conversa é essa?

CONVERSA DE MINEIRO


Conversa de mineiro não é como as outras. Conversa de mineiro é como uma manhã de sol quente,e vem uma brisa assim morna, só pra passar o tempo, outras vezes é que nem um vendaval, cheia de paixão. Conversa de mineiro é que nem um riacho, cheio de curvas, de mudança de curso, de parada com redemoinho pra depois voltar pro caminho certo. Há vezes que conversa de mineiro é que nem nossas montanhas, que crescem e minguam, sobem e descem, de vez em quando até mesmo desabam numa ribanceira, assim de repente, e pára, pra começar noutro dia, noutra hora, noutra oportunidade.

Mineiro não tem inimigo, tem desavenças.
Mineiro não tem vizinho, tem compadres.
Mineiro não faz negócio, faz catira.
Mineiro não conversa, prozêa.
Mineiro não se cansa, se aporrinha.


Tem mineiro assim que gosta bem de uma proza, que é falador que nem um papagaio, mas tem mineiro que é calado que nem uma porta. Há mineiros bem arredios – sabe que é isso não? Arredio quer dizer desconfiado, que olha todo mundo assim de banda, meio de lado.

O povo tem mania de dizer que mineiro fala pelas metade, que come as palavras, mas aquitemdissonãomoço. A gente fala assim meio escorregadio – isso quem dizia era o doutor Mané do Gordo, que era filho do João Gordo. Digo era porque o João Gordo já foi-se dessa para melhor, que Deus o tenha! Mas o causo da gente falar assim sem pressa, é que aqui a vida – também como dizia o doutor Mané do Gordo, não corre, escorrega. Aí a gente conversa que nem a vida. Pra que correr, né não, seu doutor? A gente não leva nada dessa vida mermo. Qué um pito? Olha que essa palha é das melhor que existe. É feita aqui mesmo na praça. Colheita de primeiríssima! Só poucos conseguem uma palha como essa. Pena que o fumo não seja dos melhores. Aquele Donizete Taquara só vende fumo de segunda. Ele é enrolado que nem o fumo que vende.

Mais eu tava te falando. Conversa de mineiro é assim que nem uma tarde que cai de mansinho e a gente nem se apercebe que a noite chegou, e vai ficando, e nem se apercebe quando a roda aumentou, e as estrelas já se acenderam no lampião do céu, e o azul já descortinou e o frio aperta os peito. Poesia? Que poesia nada seu moço! Isso é só jeito de te contar duma proza sem mais nem porque.

Não quer mesmo um pito? É dos bão, apesar do fumo. Maria! Trás um café novo aqui pra nóis! Um café o senhor aceita, né seu doutor? Bom! Todo mundo lá da cidade grande acha que a gente aqui da roça só fala errado, sem concordância – sabe que desde que eu aprendi essa tal de concordância, que a professorinha Letícia da Telminha ensinou pra nós, eu até consigo me expressar – gostou do expressar? - melhor com os outros.

Mais o doutor tava procurando o Seu Chico Lontra? Olha, seu doutor! Sei dele não. A última notícia que se teve dele nessas bandas foi que ele tava casado com uma mulata lá da Bahia, que tava vivendo em Salvador, mas nunca mais se soube. De verdade verdade mesmo, não se tem notícias há muito. A mãe tá sempre aperreada, com cara de choro e se remoendo de saudades, mas o filho de uma cadela sem mãe – o doutor me desculpe o jeito, mas me dá uma raiva de um filho sem coração desses! - nem dá notícias. Abandonou a mãe de vez. Mas mal pergunte, o quê o doutor tá querendo com ele? Ele fez alguma, foi? Não? Tanto melhor, que a mãe, sem notícias do filho, se ouvir que o doutor tá procurando ele por causa de alguma safadeza, vai lhe partir o coração.

O doutor veja que coisa! Chegou aqui perguntando pelo Chico Lontra – o doutor é amigo? Não? Então o que o doutor quer com ele? Sei não! Boa coisa não deve ser, o doutor sair da cidade grande, nesse carrão, topar um calor dos diabos aqui nessas terras só pra achar o Chico. Tem coisa! Pois é. O doutor chegou perguntando pelo Chico e eu já desviei a conversa pra outros planos – isso de outros planos é mania que peguei quando li um livro antigo, mas desse livro não ficou nenhuma memória, nem o nome, nem o escrevente – autor? Pois é, nem o autor me lembro. Mas ficou essa mania de falar umas palavras meio diferentes que ninguém fala por essas bandas. Mas eu estou falando demais? Não?

Então! O doutor chegou perguntando pelo Chico Lontra – por que Chico Lontra? É que ele tinha uma lontra que ele pegou no rio Paraopeba quando era criança, e andava com ela pra todo lado, até dava de comer pra ela do prato dele. Ele até viu uma vez um filme que tinha uma foca que fazia um monte de coisas, e aí ele tentou ensinar pra ela uma piruetas e mazelas, mas ela não aprendeu nada, inda acabou foi fugindo dele. O homem ficou numa tristeza, que dava dó! Mas isso foi há muito.

Mas o doutor me conta! O quê o doutor quer com o homem? E como o doutor veio parar pressas bandas? O café tá bão? Modéstia pra dizer eu não tenho! Melhor café que esse o doutor não vai achar por essas bandas, não. Não é café que se compre por aí, seu doutor. É cultivado no meu quintal, com todo carinho e dengo de fio, que os preá se foram – que é preá? Me adesculpe seu doutor, tem hora que me esqueço que nossa proza é diferente. Preá é como eu chamo os meu filhos, que se debandaram todos pra cidade grande e deixaram eu e a minha Maria aqui sozinhos. Mas filho é assim mesmo. A gente não cria pra gente não, a gente cria é pro mundo, não é, seu doutor?

Tá bão então. Se o doutor não pode falar, fica assim. Meu avô dizia que marimbondo quando tá quieto a gente não cutuca, mas que se começa a zuar a gente tem que tocar fogo. Aquele que vai ali é o Tonho Prego. Se ele é marceneiro? Por que o doutor pergunta? Não, Prego não é por causa da profissão dele não. Sei não, deve ser apelido de menino. O doutor aceita um pito? Olha que esse é dos bão. Palha de primeira. O fumo é que não é dos melhores, causo que o Donizete Taquara só vende porcaria. Qualquer dia peço prum dos meu filho trazer um fumo lá de Belzonte. Quando eles vêm ver eu mais a Maria, eles sempre trazem algum agrado. Teve uma vez que eles vieram com um tal de requeijão cremoso, o doutor conhece? Pois é. Que trem mais sonso, mais sem gosto! Requeijão é de cortar, com rapa e puchento que nem rapadura de tacho.

Mas eu tava lhe dizendo do café. É cultivo de dengo meu e da Maria, que na falta dos preá – eu já falei, meus filhos que se foram – a gente cuida das criação e das plantação que nem se fosse filho. Mas eu não tenho do que arreclamar não, seu doutor! Meus filhos são muito bão pra nóis, eu e a Maria. Minha Maria, apesar da idade e das mazelas da vida, tem um dengo por demais carinhoso e beliscoso comigo, a gente ainda se enrosca na cama como na juventude - tá bão, como na juventude é conta de pescador, mas a gente ainda dá uns arrocho, que não tou morto e ela ainda é um mulherão!

Os preá já são todos casados, nós já temos netos. É uma desgrameira, seu doutor! O tal de neto é uma coisa pra fazer a velhice ser uma amansada de mula. Amansada de mula? É quando a mula ainda não foi amontada e a gente tem que amansar ela. A vida de avô, inda mais quando os neto tão longe e a gente só vê eles vez ou outra, é um sobe e desce, e cai e alevanta. Tem dia que a gente tá numa saudade que dá uma vontade danada de chorar, e parece que o corpo todo dói só de pensar nos préasinho, e aí assim meio que de repente, parece que eles lá sentem a saudade que a gente tá sentindo aqui e sem mais nem porque aparecem, e aí é o dia mais alegre do mundo. E aí a gente fica cheio de amor pelos bichinho mas a gente tem de se fazer de duro e não deixar eles ver que a gente tá amolecendo, pra eles não perder o respeito. Mas que dá uma vontade danada de encher os bichinho de abraço e beijo, áh isso dá! O doutor tem filho? Não? Pois quando o doutor tiver vai saber do quê eu tô falando. Mas neto é diferente. Filho a gente cria, educa e põe no mundo pra voar, que nem passarinho. Já dizia meu avô. Mas neto a gente não educa nem cria, mas quer todo o tempo junto da gente. Tô chorando não, doutor. Tou só assim meio saudoso – êta palavra bonita!

O Chico Lontra? Não senhor! Sempre foi um menino bão, nunca deu trabalho pra mãe. Foi até coroinha do padre Borboleta – quem, o padre? Não, seu doutor. Sabe que agora que o doutor perguntou, nem sei o nome dele? Todo mundo chamava ele de padre Borboleta – parece que ele nem gostava – porque ele colecionava borboletas. Saía aí pelas mata em volta da cidade caçando as bichinha, e depois colocava elas fincada numa prancha de cortiça e pendurava na parede. Eu morria de dó das bichinha e achava um pecado fazer aquilo com elas, mas ele era padre, devia saber, o doutor não acha? Mas por que mesmo o doutor tá procurando o Chico? Doutor ainda não me explicou! Coisas! Tá! Essa história tá muito estranha, seu doutor! Eu até acho que já conversei demais, acho que já vou arredando o pé, que tá na minha hora.

O chapéu? Não, esse não é daqui não. Foi meus preá que me deram. Disseram eles que compraram numa viagem que fizeram lá pelos lados de Divinópolis. Bonito, né seu doutor? Nunca tinha tido um chapéu tão bonito e duradouro. Couro puro, de verdade! Não é como esses que a gente compra dos cacheiro que passam por essas bandas. Na venda do Donizete até tem uns chapéus de qualidade, mas custam o olho da cara. Esse é coisa fina! Mas também só serve pra usar no sol, que se vêr chuva ele mancha todo. Mas que é bonito é, não é não, seu doutor? Então!

Lugar pra ficar? O doutor pode ficar na pensão da Rosário. É lá no fim da rua, descendo para a praça da igreja. Depois o doutor vira pra direita e já chegou. A pensão não é das mais confortáveis não, que o doutor deve estar acostumado a muito luxo, mas é muito bem cuidada e limpa, a comida é caseira e sadia. O doutor vai ficar bem instalado. Mas o que o doutor quer mesmo com o Chico? Pode falar não? Coisa mais esquisita! O doutor me desculpe pela proza comprida e pelas beiradas, mas conversa de mineiro é assim mesmo, não tem eira nem beira, vai se achegando como quem não quer nada e quando a gente se dá conta, já tomou tamanho sem disparates. Deus lhe dê bons sonhos!